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Na parede da memória, relíquias da casa velha

segunda-feira, 3 de abril de 2023

/ by UPira
A Fotopintura, símbolo da identidade e cultura popular, foi o “photoshop" que reinventou uma tradição 

Max Rocha
É bem provável que na casa dos avós de muita gente ainda exista essa tradicional peça de arte chamada fotopintura. Sua origem data de 1855, a partir de uma técnica preliminar desenvolvida pelo alemão Franz Seraph Hanfstaengl. Por meio dela, Franz conseguiu realizar retoques diretamente sobre fotografias em preto e branco. 
A técnica da fotopintura, como conhecemos, surgiu depois, ainda no século XIX, em 1863, com o fotógrafo francês André Adolphe Disdéri. Ele possibilitou que tinta colorida fosse empregada no tratamento das fotos em preto e branco, geralmente o 3×4 de um documento ou um precário registro de lambe-lambe.


Como parte da cultura e da identidade brasileira, a tradição da fotopintura se popularizou ao longo do século XX. Era o único tipo de registro familiar para as camadas sociais mais desfavorecidas. Nascimentos, batizados, casamentos e até velórios democratizaram o ‘retrato pintado’, uma tradição especialmente na região Nordeste.


Os migrantes nordestinos também levaram a fotopintura para o Vale do São Francisco, o Norte de Minas e as periferias dos grandes centros no sudeste. Hoje, o maior acervo no Brasil é a coleção do pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFCE), Titus Riedl, reunindo mais de 5 mil imagens.


A fotopintura nada mais é do uma fotografia pintada a mão, um híbrido de retrato, fotografia e pintura. O processo possibilitava que o profissional - ‘fotopintor’ ou ‘colorista’ - manuseasse o retrato, inserindo tinta sobre a tela (geralmente guache), alterando sua cor e fazendo vários outros retoques, a pedido e gosto do cliente. 

Estética que remete ao antigo

A técnica representou uma revolução na arte da fotografia, ao possibilitar que os retratos (em preto e branco) fossem coloridos. Além disso, valorizou questões sociais, pois na época era comum entre as classes mais altas pedir que artistas pintassem suas famílias, fervor religioso e momentos inesquecíveis. 
A fotopintura demandava delicadeza, senso estético e criatividade, pois o fotopintor dava o ar de dignidade aos retratados, colocando terno e gravata nos homens, vestidos de flores e joias nas mulheres. Também possibilitava que a imagem de um falecido fosse eternizada e, caso necessário, retocada.

“Era costume mandar colorir imagens de filhos natimortos e os mais velhos falecidos. O principal papel da fotopintura era melhorar a aparência do retratado, imortalizando-o como ele gostaria de ser visto e lembrado", explicam os pesquisadores Ana Rita Vidica e Rafael Delfino Alves - da Universidade Federal de Goiás/UFG.

No Brasil, a ‘fotografia pintada’ ganhou notoriedade na década de 1940, atingiu seu auge nos anos 50-60 e se manteve forte até a década de 1980. O maior estúdio de fotopintura do País, o Uniarte, em São Paulo, tinha uma técnica baseada na escola espanhola, que ampliava a imagem e pintava com pincel por cima. 


Até hoje, mesmo com a evolução tecnológica, ainda é possível encontrar fotopinturas no Nordeste e Norte de Minas. Funcionam como “máquinas do tempo”, penduradas no fundo caiado das paredes. Um naco de passado em muitos lares do interior, homenageando os que se foram - revividos pelo colorido das tintas.
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