Jornalista vive um dia de coveiro e faz exumação

O repórter e apresentador Heberton Lopes, do canal Vim te Mostrar, no YouTube, executou tarefas que fazem parte da rotina de um cemitério

Trabalhar em um cemitério não é uma tarefa fácil e não é qualquer pessoa que consegue executar as funções necessárias, principalmente quando se trata de lidar com restos mortais. Para registrar como é a rotina de um sepultador, o jornalista Heberton Lopes, que está à frente do canal Vim te Mostrar no YouTube, vivenciou a experiência de ser coveiro por um dia. A reportagem, que foi disponibilizada no último domingo, registra os desafios de um ofício que é cercado de tabus. 

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A necrópole em que as gravações foram realizadas é o Cemitério Municipal Parque Jardim da Cachoeira, em Betim, cidade mineira situada na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O canal Vim te Mostrar esteve no local anteriormente para contar a história do grande incêndio que ocorreu no ossuário e registrar uma exumação, cujo vídeo está prestes alcançar um milhão de visualizações.

Para gravar a reportagem, Heberton Lopes fez contato com um dos mais respeitados profissionais do segmento cemiterial no Brasil, o Márcio Aurélio, que é responsável pela gestão de todas as necrópoles municipais de Betim. Antes de iniciar o trabalho, o jornalista assinou um termo de responsabilidade. “Deixei claro que a iniciativa de vivenciar a experiência de ser coveiro por um dia foi voluntária e isentei a prefeitura e a administração do local de qualquer tipo de eventualidade que pudesse ocorrer durante as gravações”, revela.

Com uniforme e paramentado com os equipamentos de proteção individual necessários, o jornalista ajudou a abrir um jazigo e entrou na cova para realizar uma exumação. “Temos que aplaudir e valorizar o trabalho dos profissionais que atuam nos cemitérios. Eu que tive a oportunidade de sentir na pele como é ser um coveiro, digo que não é fácil. Mesmo sendo praticante de atividades físicas, meu corpo reclamou. Além do serviço braçal que é pesado, há o desafio da posição quando se está dentro da sepultura, pois tem que ficar curvado e com o olhar e o tato atentos para não deixar nenhum osso passar e ser descartado junto com os resíduos da urna funerária e roupas”, diz.

Não foi a primeira vez que Heberton Lopes teve contato um cadáver. No final do ano passado, ele gravou um reality funerário, em que acompanhou um curso prático de tanatopraxia e trabalhou em um plantão na funerária. “Depois de gravar centenas de reportagens que abordam o segmento mortuário, vi de tudo, mas nunca tinha de fato trabalhado. A ideia surgiu e fomos gravar. O resultado: ajudei a preparar corpos e terminei as gravações com um certificado que me confere o título de tanatopraxista”, conta.

Sobre o Vim te Mostrar

Antes de criar o canal Vim te Mostrar, Heberton Lopes já tinha passado por programas de televisão em emissoras de Belo Horizonte, atuou na área de comunicação de empresas na capital mineira, mas, quando iniciou a jornada no YouTube, sua ocupação principal era como assessor de imprensa na sua agência, o Grupo Balo. “Mais de 90% da nossa demanda de trabalho é de assessoria de imprensa para artistas, eventos, shows e festivais. Quando a pandemia começou, fomos forçados a suspender tudo e, com isso, passei a ter tempo ocioso. Eu amo a reportagem e sentia falta de ‘voltar para a rua’. Já tinha um projeto engavetado e a oportunidade veio quando o mundo passava pelo caos de saúde mundial. Tive um sonho com o nome e já acordei com o Vim te Mostrar na cabeça. O sonho foi com o número [20 mostrar], mas depois não achei legal e decidi escrever a palavra mesmo”, conta.

O primeiro vídeo do canal foi sobre o momento que o planeta estava atravessando. “Eu faço questão de deixar lá para que eu possa rever e comparar com o momento atual. A técnica e a minha apresentação nitidamente precisavam melhorar, mas se eu fosse esperar estar pronto para iniciar o projeto, talvez o Vim te Mostrar ainda não seria uma realidade”, lembra o jornalista.

Diversos assuntos foram abordados pelo canal Vim te Mostrar desde o início, como o vídeo inaugural, sobre a pandemia de Covid-19, passando pela Gripe Espanhola, pelos benefícios da cerveja e do café para a saúde, aviões que caíram, picada de escorpião até a exploração de locais abandonados. “A primeira reportagem que começou a ser vista de fato foi sobre o Viaduto das Almas. Fui ao local, com a câmera na mão e gravei ainda meio desajeitado, mas as pessoas gostaram. A partir daí, passei a buscar mais assuntos para gravar em externas e evitar produções em estúdio. Foi a melhor decisão que eu poderia tomar”, relata.

Os números de inscritos e visualizações foram crescendo de forma lenta, mas constante. A grande virada para o canal foi em junho de 2021, quando uma pauta sobre o trabalho de preparação de corpos para o velório foi gravada e disponibilizada. “Nas noites de domingo que costumava pensar em temas para abordar no canal. Eu listava e enviava e-mails para mim mesmo e depois iniciava a produção. Em uma destas noites, surgiu a ideia de criar a série ‘As Profissões Mais Curiosas do Mundo’, já inaugurando com o trabalho do tanatopraxista, profissional que trabalha nas funerárias com o objetivo e retardar a decomposição do corpo e torná-lo o mais próximo da aparência natural para a última despedida. Entrei em contato com a assessoria de comunicação da Santa Casa BH e fui prontamente atendido pelo jornalista Laio Amaral, que teve papel decisivo para o nosso sucesso”, destaca.

A Assistência Familiar Santa Casa BH, que na época se chamava Santa Casa BH, autorizou a gravação em sua estrutura e o tanatopraxista Alexandre Alberto, supervisor do local, deu uma verdadeira aula. “Gravamos a reportagem, que ficou muito rica em detalhes, mas não mostramos nenhum corpo ou procedimento, apenas os laboratórios e as ricas explicações do Alexandre. Liberei o vídeo numa quinta e viajei na sexta, ficando sem sinal de celular e sem acesso à internet. Retornei apenas no domingo à noite e, ainda na estrada, meu smartphone não parava de vibrar. Eram notificações chegando a todo momento. O meu vídeo tinha viralizado e eu já tive mais de 50 mil visualizações em menos de quatro dias. Na mesma semana eu já estava apto a ser um parceiro do YouTube, ou seja, já poderia começar a gerar receita com este trabalho que, até então, era apenas um hobby. Foi aí que aconteceu a grande virada do Vim te Mostrar”, celebra o jornalista.