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Coluna: Doses de vidas simples

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

/ by Redação UP

Coluna Inversa

Por Larissa rocha

Doses de vidas simples 

Como esse boteco tem dona e a proprietária sou eu, decidi que nossas conversas por aqui serão nos dias 11 e 22 de todo mês. Sim, eu tenho um afeto por números repetidos. E pra conversa fluir melhor, a gente pode tomar um tempinho pra saborear o papo.


Pedimos desculpas pelo atraso nesta edição — por questões técnicas e talvez cósmicas. No dia 22, prometemos alinhar direitinho com o universo.

Tem escolhas que a gente faz na vida que são sérias violações à nossa saúde e bem-estar. Vamos combinar que, ultimamente, a humanidade está testando seus anjos da guarda ao máximo, né braseel. O povo anda mais alterado que bebida adulterada com metanol. Fora que, por bem ou por mal, gastamos mais tempo com o outro e no final do dia não sobra nada de nós nem mesmo pra gente... Não é à toa essa sensação de que a grama do vizinho é mais verde.

Em contraponto, tem decisões que abrem portais gigantes com impacto duradouro em toda nossa existência... Tipo passar um fim de tarde admirando o Velho Chico: você não lembrava o quanto esse 'momentinho de descuido' tão cotidiano, é capaz de provocar aquela catarse chamada pôr do sol no nórdimins. É tudo menos blasé, né bicha?!!


E sim, queridas leitoras e leitores, vou gastar a referência do rio da integração nacional. Se até Marina Sena, que não é daqui, baba falando do nosso Opara. Imagine, se eu (cria do enlace das barrancas com o cerrado) vou deixar de exaltar a magnitude desse nosso rio-mar... Brindemos a isso.

E aí, que: se tem uma escolha que é, ao mesmo tempo, pequenina e magnífica é a de se embebedar de cultura e arte. Você já sabe que, em cada dose, arte e cultura nos salvam e nos embriagam de emoção. Entre a ressaca da vida e o banho no rio, eu percebo: o que me salva são as experiências culturais — as que me lembram que eu existo.

Eu tenho um amigo que é referência pra mim de quem sabe saborear a vida e arte. Outro dia ouvi Cazuza e lembrei dele, da sua parede de discos, CDs, DVDs, cassetes e pôsteres de arte viva e memórias vividas nos 'momentinhos de descuido'.

E foi ouvindo Cazuza e lembrando das experiências que me permiti viver recentemente que consegui me safar de uma grande crise de ansiedade, naquele dia. Além do agudo suave e levemente rouco do divo do Barão Vermelho, só me vinha à cabeça a voz desse amigo, dizendo: "Não sofra, senhora. Viva!".

E viver não está fácil. Pra ninguém. Só pra turma do 1%. Sabe quando o filme tá acabando e de surpresa surge aquele pós-créditos dramático?!! Pois é, minha vida no momento. O pós-créditos do meu inferno astral, que deveria ter acabado no início oficial da minha nova primavera pessoal, tem abalado diversas estruturas por aqui (físicas, psicológicas, emocionais, espirituais e geográficas). Não sei como está contigo, mas pra mim 'não está sendo fácil'. 

Também me lembrei que, alguns meses atrás, eu, imediatamente, escolheria o desterro do quarto escuro e da fuga da vida nos braços de Morpheu... Ainda teremos oportunidade de conversar sobre meu modo casulo.

Atualmente tenho escolhido viver, do meu jeitinho, à meia-luz, debaixo de um céu nublado que resolveu esconder até a minha magnífica lua cheia em áries, que não deixou de dar seu nome, iluminando a noite nublada e agitando as águas (internas e externas). Convenhamos, é uma grande evolução. Do breu à névoa: memórias de escuridão (já temos o título do meu livro). 

E aqui não tem nenhuma santa iluminada não, kirides. Tem uma mulher adulta que decidiu ir com medo mesmo e se movimentar de uma forma diferente do que as vinte e sete vozes da minha cabeça que se acostumaram a ser 8 ou 80. Tenho muita dúvida pairando na minha cabeça. Quem são as minhas referências culturais? Quais são as referências culturais da minha comunidade? Quem são as pessoas que precisamos conhecer e valorizar?

E quando olho a minha volta, vejo um povo tão talentoso e tão anestesiado — com uma cultura extraordinária e pouco espaço pra vivê-la. Entendo como é difícil buscar e viver da arte e da cultura em nossa sociedade. Sei também que esse comportamento de manada é um projeto. O que mais me preocupa é o quanto rejeitamos a sabedoria popular e nos estufamos do que esvazia nossa existência. Sei que nadar contra a correnteza é árduo. Eu conheço bem o peso de ser divergente da norma.

Sei também que estamos caindo na falácia de rejeitar tudo que é antigo, lento e popular. Porém, será que tá tudo bem a gente não repassar para nossas crianças nossos referencias, porque disseram que são coisas de pobre? Será que é possível retomar o costume das experiências que não vêm num pacote de plástico? Será que esse tal de tudo que você quer dar pros seus filhos tem que ser mesmo tão distante e diferente da simplicidade que nossas famílias nos transmitiram? Quão ruim é sua pior lembrança? Quão feliz é a sua melhor lembrança? Será que você tá ouvindo o ventre que te gerou e o lar onde tu se formou? Ou você só enxerga traumas e vive uma vida baseada no ranço que criou em volta de tudo que viveu.

Sei bem que carregamos traumas dessa convivência, muitas vezes, tão violenta. Também sei que as gerações anteriores são sistemáticas, muitas vezes difíceis de lidar. Ainda assim, não sei se as pessoas que caíram na falácia do negacionismo de vacina (que salva vidas) têm muita moral pra julgar ninguém não, viu...  #PQP

Como bem aponta Ailton Krenak, a humanidade está destruindo a humanidade, senhoras e senhores. Eu só penso que 'algo de errado não está certo'...

Você aí, lendo esse texto agora: você realmente acredita que tudo que sua vó dizia e vivia é mesmo descartável? Você acredita mesmo que o conhecimento e a cultura que nossas matriarcas aprimoraram por séculos é pra jogar fora assim? Descartar tudo que passamos é mesmo tão saudável??! Ou a cura desses traumas e das crises de ansiedade virão do olhar que você dedica a essas lembranças?

Assim como Carolina Maria de Jesus, Lelia Gonzalez, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Conceição Evaristo e tantos outros, que consagraram nas páginas da literatura brasileira o coloquialismo e o 'pretuguês', nossos antepassados demonstram, em seus costumes e oralidade, o poder da sabedoria popular. Que, por sinal, precisa ser muito mais valorizada por nós gerações contemporâneas.

Aqui deixo uma proposta inusitada: sabe a sua vó, sua mãe, tias, bisas, tias emprestadas da sua comunidade ou a senhorinha antiga do seu bairro? Vá visitá-las e ouvir elas conversando. Até o tio do pavê, troca ideia com ele. Sem interferir, militar ou cagar regra na cabeça dessas pessoas (acredite, eu sei bem que é difícil desativar o modo palestrinha). Dê a elas um terço do tempo que você passa no tico e teco virtual. Assista elas falarem com a mesma dedicação que você assiste setenta e sete reels rolando feed. Escute-as romantizando cada palavra, como você faz com os vídeos de ostentação do seu coach ou pregador favorito.

Eu poderia apostar uma significativa quantidade de dinheiro que, se você fizer essa experiência uma vez por mês, durante um ano, a sua visão de mundo será extremamente diferente do que é hoje. Saber ouvir nossas e nossos mais velhos, no tempo deles, é muito mais rejuvenescedor do que máscara superfaturada na cara.

Olha, eu ouso dizer: Quem é carbonara de granfino perto do macarrão refogado no óleo de urucum da minha vó... Entretanto, não sei se vocês estão preparados pra essa conversa...

Credito das fotos:

Foto com livro: Idi Rodrigues

Foto com Zezé Mota: arquivo pessoal



Larissa Rocha Ã© cria de Buritizeiro/MG – um município gigante em território e em belezas naturais. Comunicadora apaixonada pelas histórias que nascem das barrancas do São Francisco, é destemida e curiosa. Atua na criação de projetos sociais e culturais, produção de conteúdo e gestão de redes sociais. Tem experiência em jornalismo impresso, comunicação institucional e marketing de conteúdo, sempre buscando unir afeto, estratégia e criatividade para fortalecer comunidades e valorizar as potências do Norte de Minas.





Contato:
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