Para consultores do mercado de combustíveis, estabilidade do câmbio e do preço do barril de petróleo devem abrir margem para novas reduções nos valores
O Tempo - Foto: Gabriel Ronan
Após a limitação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em 18% em Minas Gerais e as duas reduções anunciadas pela Petrobras, há chance do preço da gasolina cair ainda mais. Para analistas do mercado de combustíveis ouvidos pela reportagem, há uma margem para que o produto na bomba caia cerca de R$ 0,15.
"A gente tem observado que essas duas reduções que ocorreram nos preços, promovidas pela Petrobras, acabaram não sendo suficientes para chegar ao preço internacional. Isso por conta de praticamente uma estabilidade do preço do barril de petróleo, negociado na faixa de US$ 100, até abaixo disso, e do recuo do câmbio. E também um cenário de redução da taxa de juros por parte do Fed (Banco Central dos EUA)”, diz Eduardo Melo, da Raion Consultoria.
O diretor comercial da Valêncio Consultoria Combustíveis, Murilo Genari Barco, concorda com o colega. Ele não dá números, mas diz que há margem para redução diante do cenário atual.
“Olhando o cenário hoje, se o barril (de petróleo) continuar caindo com a preocupação mundial com recessão econômica, e o dólar estabilizar na marca que está hoje, é uma possibilidade. Para o diesel, o cenário é um pouco diferente, mas para a gasolina, se continuar como está hoje, possivelmente teremos novas reduções”, afirma o analista.
Uma preocupação do setor, no entanto, gira em torno das manutenções programadas das refinarias da Petrobras neste segundo semestre. Com a diminuição da capacidade de produção, o Brasil pode aumentar sua dependência de importação de gasolina, que hoje varia sempre abaixo dos 10% da oferta total.
Por exemplo, o percentual da gasolina importada no total das vendas internas em junho, último mês divulgado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), foi de 6,08%.
Devem parar no segundo semestre: a Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG); a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), a Refinaria Planalto de Paulínia (Replan), em Paulínia (SP); a Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP); e a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão (SP).
“É possível sofrer alguma interferência no preço por conta disso, porque demandaria mais do nosso nível de importação. Consequentemente, dependendo do custo do importado lá fora, isso (as manutenções programadas) podem atrapalhar internamente, porque as distribuidoras estão repassando isso para os postos”, diz Murilo Genari Barco, da Valêncio Consultoria.
Por outro lado, o analista lembra que a ANP, que regula o setor de combustíveis, já solicitou à Petrobras o adiamento dessas manutenções. Em coletiva de imprensa na semana passada, porém, diretores da estatal disseram que a “segurança da operação” é sempre prioridade.
Para Eduardo Melo, da Raion, as manutenções são vistas com menor risco e não devem interferir no preço. “Com relação ao diesel, existe essa preocupação pela questão do volume de consumo por conta do agronegócio (muitas lavouras de grãos realizam colheitas nos próximos meses, aumentando a demanda pelo diesel). Mas, na gasolina, eu tenho uma visão diferente”, diz.
A gasolina comum é vendida entre R$ 4,98 e R$ 5,38 nos postos da Grande BH, mas maioria dos estabelecimentos trabalha com preço de R$ 5,15 por litro nesta terça (2). O levantamento é do aplicativo Educação Fiscal, da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG), que compila notas fiscais emitidas pelo varejo de combustíveis.
Petrobras reduziu preço em R$ 0,35 nas refinarias
Desde 19 de julho, a Petrobras anunciou duas reduções no preço do litro da gasolina vendido em suas refinarias. Num primeiro momento, a cotação caiu de R$ 4,06 para R$ 3,86. Já nessa quinta-feira (28), uma nova diminuição trouxe o valor para R$ 3,71.
Porém, vale lembrar que essas reduções não são transferidas integralmente para a bomba, porque o produto final também é composto por 27% de etanol anidro para diminuir a emissão de poluentes.
Segundo a Petrobras, "essa redução acompanha a evolução dos preços de referência, que se estabilizaram em patamar inferior para a gasolina". Vale lembrar que a estatal regula seus preços de acordo com a cotação do produto importado.
Vale lembrar que o preço final da gasolina não se resume apenas ao vendido pela Petrobras. Entram nessa conta, ainda, os impostos estaduais e federais, o custo do etanol anidro, a distribuição e a revenda.
No que diz respeito aos impostos, o governo federal já zerou seus tributos até o fim do ano numa tentativa de controlar a inflação e melhorar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro (PL) antes das eleições.
Já os impostos estaduais, o ICMS, foram limitados a alíquotas entre 17% e 18% a depender do Estado brasileiro por meio da Lei Complementar 194. Em Minas, a taxa caiu de 31% para 18%, o que fez o preço final cair consideravelmente.